Escrever um texto exige, além da correção gramatical,
estabelecer ligações de sentido que o tornem entendível e agradável de ler;
Exige o que chamamos de coesão, coerência e unidade. Parecem regras de
comportamento, mas os que escrevem bem usam as mesmas, até de forma
inconsciente.
Coesão pode ser definida como a ligação de natureza
gramatical ou lexical entre os elementos de uma frase ou de um texto e
coerência, como o conjunto de relações que une o significado de sentenças ao
mundo exterior, muitas vezes baseado no conhecimento partilhado entre os
usuários de uma língua: é correto gramaticalmente dizer que o açúcar é salgado,
mas é incoerente.
Trazendo para a prática da escrita estas noções, observamos,
corrigindo redações e lendo muitos textos por força da profissão, que este á o
maior problema da língua escrita hoje. São comuns os textos desconexos linguisticamente
ou desconectados da realidade, isto é, sem coesão nem coerência. Considera-se
este o problema maior nos textos escolares, pois testemunha a ausência de um
pensamento lógico naquele que escreve: é mais grave do que desvio de grafia ou
de sintaxe. Além da coesão e da coerência, junte-se a unidade naquilo que está
sendo dito, isto é, abordar um aspecto do tema em cada parágrafo e teremos o
trio que comanda a comunicação bem sucedida na escrita.
A correção gramatical é, sem duvida, uma das mais
importantes qualidades para que se saiba escrever Mas nem sempre a mais
importante: um texto pode estar correto do ponto de vista gramatical e
revelar-se inaproveitável. Os defeitos mais graves decorrem menos dos deslizes
gramaticais que das falhas de estruturação da frase, da incoerência das ideias,
da falta de unidade, da ausência de conexões. Quando alguém aprende a
concatenar ideias, a estabelecer suas relações de dependência, expondo seu
pensamento de modo claro, coerente e objetivo, o texto flui.
Isoladamente, unidade e coesão têm características próprias,
mas quase sempre a falta de uma resulta da ausência da outra. A primeira pode
ser em grande parte conseguida pelo uso do tópico frasal; a segunda depende,
principalmente, de uma ordem adequada e do emprego oportuno das partículas de
transição.
Já a coerência é a relação entre a ideia predominante e as
secundárias. Para se obter unidade, a idéia predominante não apenas aparece sob
a forma de oração principal, mas também se coloca em posição de relevo, por
estar no fim ou próximo ao fim do parágrafo.
Aprender a escrever é, em grande parte, se não
principalmente, aprender a pensar, diz Othon Garcia. É aprender a encontrar
idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem,
não se pode transmitir o que a mente não criou, não aprovisionou. Palavras não
criam ideias; estas é que acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda
como associá-las, fundindo-as em unidades frasais adequadas.
Escrever bem não é conhecer regras gramaticais e exceções.
Há evidentemente um mínimo de gramática indispensável para permitir que se
adquira certos hábitos de estruturação de frases claras, coerentes, objetivas. Porém,
é preciso adquirir os meios de disciplinar o raciocínio, de estimular o
espírito de observação dos fatos e criar ideias: aprender, enfim, a disciplinar
o raciocínio para, a seguir, dispor no texto.
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