domingo, 6 de novembro de 2011

Palavra de Mestre - Texto de Nely Carvalho sobre as qualidades de um texto.


Escrever um texto exige, além da correção gramatical, estabelecer ligações de sentido que o tornem entendível e agradável de ler; Exige o que chamamos de coesão, coerência e unidade. Parecem regras de comportamento, mas os que escrevem bem usam as mesmas, até de forma inconsciente.

Coesão pode ser definida como a ligação de natureza gramatical ou lexical entre os elementos de uma frase ou de um texto e coerência, como o conjunto de relações que une o significado de sentenças ao mundo exterior, muitas vezes baseado no conhecimento partilhado entre os usuários de uma língua: é correto gramaticalmente dizer que o açúcar é salgado, mas é incoerente.

Trazendo para a prática da escrita estas noções, observamos, corrigindo redações e lendo muitos textos por força da profissão, que este á o maior problema da língua escrita hoje. São comuns os textos desconexos linguisticamente ou desconectados da realidade, isto é, sem coesão nem coerência. Considera-se este o problema maior nos textos escolares, pois testemunha a ausência de um pensamento lógico naquele que escreve: é mais grave do que desvio de grafia ou de sintaxe. Além da coesão e da coerência, junte-se a unidade naquilo que está sendo dito, isto é, abordar um aspecto do tema em cada parágrafo e teremos o trio que comanda a comunicação bem sucedida na escrita.

A correção gramatical é, sem duvida, uma das mais importantes qualidades para que se saiba escrever Mas nem sempre a mais importante: um texto pode estar correto do ponto de vista gramatical e revelar-se inaproveitável. Os defeitos mais graves decorrem menos dos deslizes gramaticais que das falhas de estruturação da frase, da incoerência das ideias, da falta de unidade, da ausência de conexões. Quando alguém aprende a concatenar ideias, a estabelecer suas relações de dependência, expondo seu pensamento de modo claro, coerente e objetivo, o texto flui.

Isoladamente, unidade e coesão têm características próprias, mas quase sempre a falta de uma resulta da ausência da outra. A primeira pode ser em grande parte conseguida pelo uso do tópico frasal; a segunda depende, principalmente, de uma ordem adequada e do emprego oportuno das partículas de transição.

Já a coerência é a relação entre a ideia predominante e as secundárias. Para se obter unidade, a idéia predominante não apenas aparece sob a forma de oração principal, mas também se coloca em posição de relevo, por estar no fim ou próximo ao fim do parágrafo.

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, diz Othon Garcia. É aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou, não aprovisionou. Palavras não criam ideias; estas é que acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las, fundindo-as em unidades frasais adequadas.

Escrever bem não é conhecer regras gramaticais e exceções. Há evidentemente um mínimo de gramática indispensável para permitir que se adquira certos hábitos de estruturação de frases claras, coerentes, objetivas. Porém, é preciso adquirir os meios de disciplinar o raciocínio, de estimular o espírito de observação dos fatos e criar ideias: aprender, enfim, a disciplinar o raciocínio para, a seguir, dispor no texto.

(Nelly carvalho - http://pe360graus.globo.com/educacao/educacao-e-carreiras/ensino/2009/01/01/BLG,343,35,530,EDUCACAO,889-SABER-ESCREVER.aspx – acesso em 21/07/2010)

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